Há oito anos Jaguarana Silva, de 35 anos, espera por um transplante de rim. Aposentada por invalidez, a paciente tem insuficiência renal crônica, faz hemodiálise três vezes por semana e, quatro anos atrás, quase fez a operação para enxertar um novo órgão. “Fui chamada para o hospital, fiz os exames e [o rim] não era compatível. Estava concorrendo com outros cinco pacientes”.
Jaguarana é uma das 1.915 pessoas que aguardam por um órgão na Bahia. É a quarta maior fila de espera entre os estados brasileiros. De acordo com a Associação Brasileira de Transplantes de Órgãos (ABTO), o principal entrave no estado é a recusa de familiares em doar órgãos de parentes falecidos. Na Bahia, uma em cada dez doações é de pessoas vivas.
Um levantamento da ABTO divulgado recentemente demonstrou que, no primeiro semestre de 2017, 62% dos 158 familiares abordados por equipes médicas na Bahia para a doação recusaram o pedido. Neste mês, o “Setembro Verde”, empresas e organizações de saúde realizam campanhas para estimular a doação.
Motivos
De acordo com a Central de Transplantes, organização estadual que incentiva a doação de órgãos, as principais razões para a negativa das famílias são o desconhecimento do desejo do falecido em vida, a falta de esclarecimento sobre morte cerebral e a crença de que a religião da pessoa não permite a doação.
“Não se conversa entre família sobre o assunto”, comenta o arquiteto Mário Rêgo, 69, que há três anos fez um transplante de fígado. Portador de uma doença congênita, Mário descobriu com 65 anos que precisava da operação, e, como o transplante só é realizado em pacientes com até 70 anos, a ansiedade foi grande. “Se a fila demorasse, poderia passar do tempo”.
Para a médica Liana Machado Codes, integrante da equipe de transplantes de fígado do Hospital Português, é necessário oferecer uma rede de apoio à família do doador. “A falta de doação é um dos nossos maiores problemas. Devemos mostrar à população que o transplante tem resultados positivos”.
Coordenador da equipe de transplantes de fígado do Hospital São Rafael, o cirurgião Jorge Bastos reforça também a importância em conscientizar as pessoas sobre a morte cerebral. Apenas neste caso, quando o coração do falecido ainda bate, podem ser doados pulmões, fígado, rins, pâncreas, intestino e o próprio coração.
O tempo de espera na fila de transplante é um fator importante para definir o sucesso da operação. “As pessoas passam um tempo longo na lista e, às vezes, a situação deles piora muito e, quando chega à cirurgia, não resiste”, diz Bastos.
Mesmo com o alto percentual de negação familiar, o número de doadores aumentou na Bahia de 77 para 107 nos últimos cinco anos. Entre janeiro e agosto de 2017, 88 doações já foram realizadas. Para o cirurgião do Hospital São Rafael, o crescimento se deve à melhoria da infraestrutura do estado para as operações.
O presidente da ABTO, Roberto Manfro, aponta a captação de mais doadores como outro fator responsável pelo aumento. “A recusa permanece mais ou menos estabilizada, mas o número de potenciais doadores identificados têm aumentado. Isso resulta num maior número de doações”.
Apesar de a Bahia ter registrado um aumento nas notificações de pessoas falecidas em condições adequadas para doar órgãos nos últimos cinco anos, esse crescimento, de 8,2%, foi inferior aos avanços médios no Nordeste e no Brasil.
Educação
A média de doações por habitantes do estado permanece menor que os índices regional e nacional. A coordenadora da Central de Transplantes, a enfermeira América Carolina Sodré, atribui esse dado à recusa familiar no estado, a quinta maior do país.
Para o presidente da ABTO, o caminho para reduzir essa negativa é a educação. “E isso envolve toda a sociedade: o poder público, a imprensa, os educadores e as organizações do setor. Uma ação coordenada é o que pode resolver isso. E ela não pode ser esporádica”.
O índice de doação também pode ser melhorado, segundo Manfro, se houver mais profissionais treinados para identificar potenciais doadores e conversar com as famílias. Por lei, todo hospital com mais de 80 leitos deveria ter uma comissão com essas funções. Na Bahia, essa regra é cumprida por 23 das 86 unidades que têm 80 leitos ou mais.
A Central de Transplantes possui sete equipes móveis para fazer a captação de órgãos. “Onde não tem comissão, nossas equipes fazem esse papel”, afirma a coordenadora.
Onde são realizados transplantes
Córnea - Em unidades em Salvador, Feira de Santana, Vitória da Conquista, Itabuna, Jequié e Teixeira de Freitas. São 20 equipes no total
Rim - Nos hospitais Ana Nery, Português, São Rafael (os três são em Salvador), Dom Pedro e Emec (ambos em Feira)
Fígado - Nos hospitais Português e São Rafael
Pulmão e cardíaco - No Hospital Ana Nery
Medula óssea - No São Rafael e no Hospital das Clínicas, localizados em Salvador
Por Redação GN | Fonte: A Tarde
Jaguarana é uma das 1.915 pessoas que aguardam por um órgão na Bahia. É a quarta maior fila de espera entre os estados brasileiros. De acordo com a Associação Brasileira de Transplantes de Órgãos (ABTO), o principal entrave no estado é a recusa de familiares em doar órgãos de parentes falecidos. Na Bahia, uma em cada dez doações é de pessoas vivas.
Um levantamento da ABTO divulgado recentemente demonstrou que, no primeiro semestre de 2017, 62% dos 158 familiares abordados por equipes médicas na Bahia para a doação recusaram o pedido. Neste mês, o “Setembro Verde”, empresas e organizações de saúde realizam campanhas para estimular a doação.
Motivos
De acordo com a Central de Transplantes, organização estadual que incentiva a doação de órgãos, as principais razões para a negativa das famílias são o desconhecimento do desejo do falecido em vida, a falta de esclarecimento sobre morte cerebral e a crença de que a religião da pessoa não permite a doação.
“Não se conversa entre família sobre o assunto”, comenta o arquiteto Mário Rêgo, 69, que há três anos fez um transplante de fígado. Portador de uma doença congênita, Mário descobriu com 65 anos que precisava da operação, e, como o transplante só é realizado em pacientes com até 70 anos, a ansiedade foi grande. “Se a fila demorasse, poderia passar do tempo”.
Para a médica Liana Machado Codes, integrante da equipe de transplantes de fígado do Hospital Português, é necessário oferecer uma rede de apoio à família do doador. “A falta de doação é um dos nossos maiores problemas. Devemos mostrar à população que o transplante tem resultados positivos”.
Coordenador da equipe de transplantes de fígado do Hospital São Rafael, o cirurgião Jorge Bastos reforça também a importância em conscientizar as pessoas sobre a morte cerebral. Apenas neste caso, quando o coração do falecido ainda bate, podem ser doados pulmões, fígado, rins, pâncreas, intestino e o próprio coração.
O tempo de espera na fila de transplante é um fator importante para definir o sucesso da operação. “As pessoas passam um tempo longo na lista e, às vezes, a situação deles piora muito e, quando chega à cirurgia, não resiste”, diz Bastos.
Mesmo com o alto percentual de negação familiar, o número de doadores aumentou na Bahia de 77 para 107 nos últimos cinco anos. Entre janeiro e agosto de 2017, 88 doações já foram realizadas. Para o cirurgião do Hospital São Rafael, o crescimento se deve à melhoria da infraestrutura do estado para as operações.
O presidente da ABTO, Roberto Manfro, aponta a captação de mais doadores como outro fator responsável pelo aumento. “A recusa permanece mais ou menos estabilizada, mas o número de potenciais doadores identificados têm aumentado. Isso resulta num maior número de doações”.
Apesar de a Bahia ter registrado um aumento nas notificações de pessoas falecidas em condições adequadas para doar órgãos nos últimos cinco anos, esse crescimento, de 8,2%, foi inferior aos avanços médios no Nordeste e no Brasil.
Educação
A média de doações por habitantes do estado permanece menor que os índices regional e nacional. A coordenadora da Central de Transplantes, a enfermeira América Carolina Sodré, atribui esse dado à recusa familiar no estado, a quinta maior do país.
Para o presidente da ABTO, o caminho para reduzir essa negativa é a educação. “E isso envolve toda a sociedade: o poder público, a imprensa, os educadores e as organizações do setor. Uma ação coordenada é o que pode resolver isso. E ela não pode ser esporádica”.
O índice de doação também pode ser melhorado, segundo Manfro, se houver mais profissionais treinados para identificar potenciais doadores e conversar com as famílias. Por lei, todo hospital com mais de 80 leitos deveria ter uma comissão com essas funções. Na Bahia, essa regra é cumprida por 23 das 86 unidades que têm 80 leitos ou mais.
A Central de Transplantes possui sete equipes móveis para fazer a captação de órgãos. “Onde não tem comissão, nossas equipes fazem esse papel”, afirma a coordenadora.
Onde são realizados transplantes
Córnea - Em unidades em Salvador, Feira de Santana, Vitória da Conquista, Itabuna, Jequié e Teixeira de Freitas. São 20 equipes no total
Rim - Nos hospitais Ana Nery, Português, São Rafael (os três são em Salvador), Dom Pedro e Emec (ambos em Feira)
Fígado - Nos hospitais Português e São Rafael
Pulmão e cardíaco - No Hospital Ana Nery
Medula óssea - No São Rafael e no Hospital das Clínicas, localizados em Salvador
Por Redação GN | Fonte: A Tarde
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