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Feira de artesanato movimenta produção de cerâmicas em Aratuípe

 

Toda vez que a mãe do pequeno Rosalvo Santana levava o garoto à igreja, o menino ficava impressionado com a beleza das imagens dos santos esculpidos em barro nas paredes do templo. Até que ao completar 16 anos ele resolveu fazer uma imagem sacra, uma santa, que alguns dias depois foi levada para ser vendida na Feira do Caxixi, em Nazaré das Farinhas, e foi aí que tudo mudou.

No sábado (30), mais de 20 anos depois, as peças dele foram a sensação da Feira de Artesanato da Bahia, em Maragogipinho, no Recôncavo. O evento reuniu cerca de 40 mestres e artesãos na principal praça do distrito de Aratuípe. Os artistas levaram obras em tecido, madeira e outros materiais, mas foram as peças em barro que se destacaram. Segundo os organizadores, Maragogipinho é o maior centro oleiro da América Latina, são 170 oficinas de cerâmica na região onde Rosalvo nasceu e onde ele ainda mora.

“Eu nascei com o dom de desenhar, desenhava muito, e aos 16 anos comecei a tentar fazer a mesma modelagem em barro. Como eu gostava muito dos santos, fiz uma Nossa Senhora da Conceição e levei até a Feira do Caxixi, e foi um alvoroço, porque ninguém fazia a mesma modelagem que eu fazia, era um trabalho diferente. Foram surgindo encomendas e eu não parei mais”, disse.

Ele contou que teve que aprender sozinho a dominar o barro. Hoje, os produtos são vendidos por todo o Brasil e também no exterior. Uma das peças está no Vaticano. Ele recebeu o CORREIO na casa simples onde mora com a esposa e os quatro filhos, e as peças foram expostas na entrada da feira. A imagem de Santo Antônio com o menino Jesus nos braços impressiona pela riqueza de detalhes, o barro drapeado dá a sensação de movimento às roupas, os detalhes nas unhas, nas minúsculas contas do terço e outros elementos não escapam aos olhos.

Enquanto o artesão contava sobre o trabalho, o filho mais velho, Rosalvo Santana Junior, 22, observava o pai orgulhoso. É que ele também seguiu o ofício do pai, assim como muitos outros artesãos. Ana Clara Nazaré, 18 anos, é uma das artistas mais jovens da região. A produção começou com o bisavó dela. O avô tornou-se mestre. O pai aprendeu a arte e, agora, é ela quem leva adiante o trabalho da família.

“Sou a terceira geração de artesãos profissionais por parte de pai, mas minha família materna também trabalha com barro e sinto muito orgulho disso. Eu cresci vendo meu pai produzindo as peças, mas só comecei a mexer com barro durante a pandemia. Tirei a carteira de artesã esse ano”, contou, enquanto ajustava as peças no stand da feira.

Economia

À primeira vista, as imagens sacras, os potes, jarros, esculturas e objetos de decoração parecem ser apenas um amontoado de peças de barro, mas basta um olhar mais atento para perceber um pedaço da história esculpido por mãos de homens e mulheres que encontraram na natureza a fonte de sustento. Segundo a coordenadora de Fomento ao Artesanato da Bahia (CFA), Ângela Guimarães, o objetivo das feiras é impulsionar as produções locais e criar uma rota turística de artesanato no estado.

“As feiras regionais acontecem desde 2021 e Maragogipinho foi o primeiro lugar onde apresentamos esse modelo, uma feira de negócios de pequeno a médio porte, dando visibilidade a produção desse espaço. Inauguramos uma sala de artesanato para dar apoio aos artesãos e estamos com um plano de desenvolvimento para trabalhar, durante três anos, capacitação, produção e venda. É um conjunto de ações”, afirmou.

Para chegar em Maragogipinho é preciso seguir 5 km por uma estrada de barro que vai serpenteando por entre vegetação densa e campos abertos. A entrada do distrito tem esculturas em diferentes tamanhos e as casas que margeiam o caminho transformaram janelas e varandas em lojas para a venda dos produtos locais. Mas, a maior riqueza da cidade é a simplicidade de sua gente.

Em uma olaria, como são chamadas as pequenas fábricas de cerâmica, ceramistas mostraram o passo a passo da produção, desde a escolha da argila, a habilidade para modelar o barro, a técnica para usar o forno que dá resistência à peça e o acabamento responsável pelo charme final. “É um trabalho muito delicado e que exige um cuidado extremo, porque pode quebrar”, contou a advogada Fernanda Moraes, que estava visitando a feira.

Essa foi a 18ª edição da feira de artesanato da Bahia, a segunda em Maragogipinho. Segundo a Secretaria do Trabalho, Emprego, Renda e Esporte da Bahia (Setre), em 2021, o evento passou por sete municípios, reuniu 191 artesãos, expôs 16 mil produtos e movimentou R$ 170 mil. Em 2022, serão 20 edições até o final do ano. As próximas feiras acontecem em Jaguarari, Jacobina e Lençóis. *Correio

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