Pouco após o grupo responsável pelo Globo de Ouro -a HFPA, sigla da Associação de Imprensa Estrangeira de Hollywood- divulgar mudanças internas mirando o aumento de diversidade racial, artistas e empresas do setor intensificaram críticas e polêmicas envolvendo a premiação, ao romper parcerias importantes.
A começar pela emissora americana que usualmente transmite o prêmio, a NBC. Nesta segunda (10), ela anunciou que não transmitirá a cerimônia em 2022 devido à avalanche de críticas contra a organização por falta de diversidade e transparência.
"Continuamos acreditando que a HFPA está comprometida com uma reforma significativa. Mas uma mudança desta magnitude requer tempo e trabalho, e acreditamos que a HFPA precisa de tempo para fazê-lo bem", informou a NBC em um comunicado.
A Netflix também disse não acreditar nas novas políticas propostas. "Não acreditamos que essas novas políticas propostas resolverão os desafios sistêmicos de inclusão e diversidade da HFPA, nem a ausência de transparência de suas operações", afirmou Ted Sarandos, um dos diretores-executivos da Netflix, numa carta enviada aos organizadores do Globo de Ouro, na sexta (7).
"Portanto, estamos interrompendo todas as atividades com a HFPA até que mudanças mais significativas sejam feitas. A Netflix e muitos dos talentos e criadores com quem trabalhamos não podem ignorar o fracasso coletivo da HFPA em abordar essas questões cruciais com urgência e rigor."
Desde uma investigação do jornal americano LA Times, publicada em fevereiro, o Globo de Ouro tem se tornado um grande alvo de denúncias e críticas.
A reportagem revelou que não havia, até então, nenhum negro entre os membros da associação, o que fez o grupo receber acusações de racismo.
Além disso, comitês do prêmio são acusados de fazerem parte de um esquema de troca de favores, no qual eleitores aceitam dinheiro, viagens e presentes em troca de indicações no Globo de Ouro. A HFPA, no entanto, nega a acusação de corrupção.
Na sexta, a associação anunciou a aprovação da inclusão de 20 novos membros, o aumento do recrutamento de jornalistas negros na equipe e a contratação de um diretor de diversidade.
"Entendemos que o trabalho duro começa agora", disse Ali Sar, presidente da HFPA. "Continuamos dedicados a nos tornarmos uma organização melhor e um exemplo de diversidade, transparência e responsabilidade no setor."
No entanto, as medidas não agradaram boa parte do setor do cinema e da TV de Hollywood, o que ficou evidente na onda de críticas feitas ao prêmio no mesmo dia.
Rival da Netflix, o Amazon Prime também suspendeu parcerias com a HFPA. Jennifer Salke, diretora do streaming, disse num comunicado que sua empresa aguarda "uma solução sincera e significativa" do prêmio.
Para a presidente da Time's Up Foundation, Tina Chen, as novas medidas do Globo de Ouro são "insuficientes e pouco transformadoras".
Mais de cem empresários de publicidade e relações públicas de Hollywood assinaram uma nota criticando a associação.
"Continuaremos a nos privar de quaisquer eventos da HFPA, incluindo coletivas de imprensa, a menos que essas questões sejam esclarecidas em detalhes com um firme compromisso que respeite a realidade da temporada de 2022, que se aproxima", diz a nota.
No Twitter, o ator e cineasta americano Mark Ruffalo publicou um texto crítico ao Globo de Ouro e revelou que não se sente feliz por ter recebido o prêmio de melhor ator em série, por "I Know This Much Is True", neste ano.
Depois dele, a atriz Scarlett Johansson, estrela de "Viúva Negra", também se juntou aos profissionais do setor e rompeu laços com a associação do Globo de Ouro.
De acordo com a revista Variety, Johansson definiu a HFPA como "uma organização que foi legitimada por pessoas como Harvey Weinstein para ganhar o reconhecimento da Academia".
A atriz afirmou ainda que aguarda uma reforma que seja realmente transformadora no prêmio.
"Ouvimos as preocupações sobre as mudanças que nossa associação precisa fazer e queremos garantir que estamos trabalhando diligentemente em todas elas", disse Ali Sar, numa carta enviada à Netflix.
"Podemos garantir que nosso plano reflete a opinião de nossos apoiadores e críticos, e acreditamos que nosso plano irá conduzir a uma reforma e inclusão significativas em nossa associação, de uma forma que toda a indústria [do cinema e da TV] possa se orgulhar." *Folfapress
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