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Quadrilha envolvida com abortos chegava a lucrar R$ 300 mil por mês


A Polícia Militar do Rio realizou uma grande operação para desarticular uma quadrilha que realizava abortos. Dos 75 mandados prisão, 57 foram cumpridos até o fechamento desta reportagem. Além destes, existem outros 118 mandados de busca e apreensão contra integrantes do grupo. Uma das presas foi localizada no interior do estado de São Paulo. Entre os mandados, cinco eram de suspeitos que já estavam na cadeia. Foram apreendidas máquinas de sucção (utilizadas na prática do aborto), cerca de R$ 555 mil, quatro carros, documentos e medicamentos.

Pelo menos duas mil mulheres teriam se submetido a abortos nas clínicas clandestinas da quadrilha. A faixa etária e condições para realizar os procedimentos variavam. O aborto podia custar R$ 7.500. A investigação durou 15 meses e contou com interrogatórios de 80 mulheres que procuraram o grupo. A Polícia afirma que procedimentos abortivos foram realizados em menores de idade e em mulheres com sete meses de gestação. Em média, o lucro mensal era de R$ 300 mil.

Entre os presos, está o chefe da quadrilha: o médico Aloísio Soares Guimarães. Segundo as investigações, ele realizava abortos ilegais desde 1972. Na casa do médico foram apreendidos 180 mil dólares, documentos da abertura de uma conta na Suíça, um extrato de 5 milhões – que a polícia está apurando se na moeda real ou dólar – e aparelhos de sucção. Os mandados expedidos contemplam outros médicos, além de policiais civis e militares, um bombeiro, três advogados, um militar do Exército e um falso médico.

A Operação Herodes, como está sendo chamada, constatou que a quadrilha se dividia em sete núcleos, que atendiam mulheres de toda a região metropolitana do estado. As clínicas ficavam em Campo Grande, Copacabana, Botafogo, Bonsucesso, Rocha, Tijuca e Guadalupe. Contudo, o grupo também realizava abortos em outros estados. Segundo a Polícia Civil, os procedimentos eram realizados com insalubridade, sem higiene, colocando em risco a vida das pacientes.

Além dos abortos, a quadrilha é investigada por corrupção passiva, prevaricação, exercício ilegal da medicina, associação para o tráfico de drogas, corrupção ativa e associação criminosa armada. O major da Polícia Militar, Paulo Roberto Nigri, e o inspetor da Polícia Civil, Alexandre Vieira de Lima, que também foram presos na operação, estão sendo investigados por proteção à clínica de Copacabana, uma das que possuía maior faturamento.

Ao todo, 70 delegados e 430 agentes da Polícia Civil estão envolvidos na Operação Herodes. Equipes foram deslocadas para São Paulo e Espírito Santo a fim de cumprir mandados. O grupo conta com 150 viaturas e apoio da Corregedoria Geral Unificada (CGU), da Corregedoria Interna da Polícia Militar e do Exército Brasileiro.

Para o delegado Fernando Veloso, Chefe da Polícia Civil, "a Operação Herodes representa um marco de repressão a essa conduta criminosa e espero que consigamos dar um passo importante para coibir quadrilhas que praticam abortos ilegais. É uma ação inédita e inovadora no cenário jurídico. Agora é muito importante que a sociedade colabore com a Polícia Civil denunciando clínicas clandestinas e pessoas que trabalham com esse tipo de prática. As mulheres não podem continuar sendo mortas".

Um dos responsáveis pelas investigações, o delegado Glaudiston Galeano, da Coinpol, disse que os médicos presos não podem ser considerados profissionais da Medicina. "Os locais, as clínicas de aborto, eram verdadeiros açougues. Os médicos não são médicos, são açougueiros. Eles matam como se estivessem matando um bezerro. Nas investigações ficou detectado que existiam sete núcleos da quadrilha, que praticava abortos em menores de 13 anos e interrompiam gestações de 7 meses, com microcirurgia. Para essa prática, era cobrado valor de até R$ 7.500. Essas pessoas construíram uma fábrica de abortos", disse. Fonte: Jornal do Brasil