A produtora de eventos Cristiane Macedo, 47 anos, trabalha como mesária há dez anos e se diverte com as situações que ocorrem no momento da votação. Certa vez, apareceu um eleitor alcoolizado. Ele fez o procedimento sem causar tumulto, mas quando se dirigiu para a cabine ficou em silêncio por um tempo maior que o normal. Preocupados, os mesários perguntaram se estava tudo bem, mas o homem nada respondeu. Cristiane então resolveu se apaixonar para checar e foi então que encontrou o eleitor cochilando por cima da urna. Hoje, ela rir a situação, mas na hora precisou acordar o homem.
Em teoria, despertar o eleitor do sono não é uma função dos presidentes de mesa, porque ninguém deve dormir no momento da votação, mas na prática é preciso que os mesários estejam preparados para lidar com todo tipo de situação. É por isso que o Tribunal Regional Eleitoral (TRE-BA) faz um treinamento com esses profissionais para esclarecer dúvidas sobre a legislação e sobre o comportamento no dia do pleito. A capacitação é específica para os presidentes, porque eles são a maior autoridade na seção.
“Eu comecei a ser mesária por iniciativa própria, porque queria conhecer como era o processo, tinha curiosidade. Há quatro anos me tornei presidente de mesa. O treinamento é importante porque, mesmo já tendo conhecimento, todos os anos existem mudanças e precisamos estar atentos para colocar em prática. Na minha seção, por exemplo, vota Durval Lélys, então, toda vez que ele chega temos que controlar o tumulto”, brinca.
Cristiane relata que nem toda situação é divertida. No último pleito, em 2022, houve confusão por conta da polarização política entre os apoiadores de Lula e de Bolsonaro. A situação ficou tão complicada que foi preciso acionar a Polícia Militar. Já houve casos de eleitores se desentenderam por conta de animais de estimação. “Principalmente cachorro. Tem pessoas que têm medo e a gente tem que conversar, pedir para o tutor aguardar a pessoa sair ou para alguém ficar com o animal do lado de fora”, explica.
Já o professor de Química Fredson Guimarães, 44 anos, se inscreveu para ser mesário em 2020, durante a pandemia de covid-19. Ele conta que foi motivado pelo desejo cívico de servir a nação em um momento crítico de crise sanitária e que não se arrepende. Nesta terça-feira (20), durante a capacitação ele contou que no último pleito as filas deixaram os eleitores estressados, alguns tentaram desrespeitar as prioridades e que foi preciso acionar a segurança para manter a ordem.
“Na pandemia eu me predispus a ajudar no processo eleitoral, porque as pessoas estavam com medo de participar e o pleito poderia ser prejudicado. Eu já tinha vontade de ser mesário, então, foi o momento de conseguir essa oportunidade. Lembro que usamos vários equipamentos de proteção para evitar contaminação, e que foi legal. Estou indo para a terceira eleição e não pretendo parar. É gratificante”, disse.
Fredson foi escolhido de imediato para ser presidente da mesa. O analista judiciário do TRE-BA, Jaime Barreiros, explica que a escolha do presidente leva em consideração o grau de instrução do mesário, o histórico de participação em outros pleitos, a proximidade com a seção e outros critérios de análise. Ele frisou a importância dos mesários no processo eleitoral.
“Sem mesário não existe eleição. O mesário é o primeiro grande fiscal do processo eleitoral. É ele que está na ponta observando o processo, se há tentativa de fraude ou de coação ao eleitor. Ele que apura o resultado da eleição imediatamente após o pleito, através do boletim de urna. Não teria como a Justiça Eleitoral dar conta desse serviço sozinha, então, a presença do mesário é fundamental para que a eleição aconteça”, afirmou Barreiros.
Na Bahia, na última eleição, foram 37 mil presidentes de mesa, sendo que 5 mil deles atuaram em Salvador. Esses devem ser também os números deste ano. No total, são 140 mil mesários no estado, entre voluntários e convocados, o que inclui presidente, 1º e 2º mesários e o secretário da seção. Segundo o TRE, cerca de 70% deles já confirmaram presença. As convocações podem ser feitas até 30 de agosto. A capacitação está sendo realizada na sede do TRE, no Centro Administrativo da Bahia (CAB), até 6 de setembro. São quatro turmas por dia.
Saiba quais são as funções de quem trabalha no processo eleitoral
Presidente – maior autoridade na seção
- Verificar as credenciais dos fiscais;
- Adotar os procedimentos para a emissão da zerésima;
- Iniciar e encerrar a votação;
- Digitar o número do título do eleitor no terminal do mesário, autorizando-o a votar ou a justificar;
- Receber as impugnações em relação à identidade do eleitor;
- Providenciar a entrega dos materiais à junta eleitoral;
- Resolver as dificuldades e esclarecer as dúvidas que ocorrerem;
- Mesários: o 1º e o 2º mesários, nessa ordem, substituem o presidente na sua ausência:
- Localizar o nome do eleitor no caderno de votação e colher sua assinatura;
- Ditar o número do título ao presidente;
- Entregar o comprovante de votação ou de justificativa e devolver os documentos ao eleitor;
- Cumprir as demais obrigações que lhes forem atribuídas;
- Secretário: responsável pelo preenchimento da ata da mesa receptora de votos, relacionando as ocorrências registradas no dia no campo “anotações”
- Orientar os eleitores na fila e verificar se pertencem àquela seção, conferindo seus documentos;
- Controlar a entrada e a movimentação das pessoas na seção;
- Verificar o correto preenchimento do formulário Requerimento de Justificativa Eleitoral;
- Verificar se o eleitor, ao sair, recebeu o documento de identificação e o comprovante de votação;
- Distribuir aos eleitores, às 17 horas, as senhas de entrada
- Cumprir as demais obrigações que lhe forem atribuídas;
*Correio da Bahia
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