Roseval Pinto, de 63 anos, cresceu vendo o pai comandar a fábrica de licor Roque Pinto, em Cachoeira. Aos nove anos, ele mesmo já se aventurava no preparo artesanal da bebida cuja receita foi passada de geração em geração da família. Hoje, é ele quem toca o negócio e, desde o início de maio, praticamente não para. Desde as oito da manhã e sem hora para terminar o dia, Roseval comanda a fabricação dos licores que, desde 2017, são reconhecidos como Patrimônio Imaterial de Cachoeira. “Às vésperas do São João, é quase impossível parar. Produzimos cerca de 80 mil litros entre maio e junho. Em outras épocas, nem chega a mil litros. No período junino, as vendas aumentam a ponto de nos permitir manter o negócio pelo resto do ano”, conta Roseval. Além do comércio na própria cidade, 80% das garrafas do Licor de Roque Pinto vão parar em Salvador. Feira de Santana e Aracaju (SE) são outros grandes compradores.
O Licor de Tia Eulina, fabricado em Santo Antônio por Elvys Freire e sua mãe, também aumenta as vendas em até 200% no período das festas. Desde 2005, eles já faziam licores mais tradicionais, como o de jenipapo. Anos depois, mãe e filho decidiram testar receitas cremosas, mas apenas para o consumo em casa. Quando os amigos provaram o sabor de jabuticaba, disseram que eles tinham que comercializar o produto. Em 2015, Elvys passou a vender as garrafas na praça da cidade, durante o São João e, três anos depois, já tinha uma clientela fidelizada. “Hoje, vendemos até para São Paulo. Maio e junho são os melhores mês de venda, mas temos usado o Instagram para impulsionar esse movimento no resto do ano também”, conta ele.
Redes sociais
Saber tirar proveito das redes sociais é justamente uma das dicas de Rosângela Gonçalves, analista técnica do Sebrae Bahia, para faturar mais durante esse período. “Datas como São João sempre são oportunidade de lucrar mais. Fazer campanhas nas redes com foco nas festas é importante. Só isso, no entanto, não é suficiente. Os empresários devem se planejar e não deixar para preparar o negócio em cima da hora”, orienta.
Na Bahia, as festas juninas movimentam praticamente todos os setores de mercado, desde o setor de eventos e produção cultural, até o artesanato, passando, é claro, pelas bebidas e comidas típicas. A soteropolitana Quezia Conceição é dona do Quefá Buffet, que, durante todo o ano, recebe encomendas de doces e salgados e fornece coffee break para eventos corporativos. Entre maio e julho, no entanto, ela muda o cardápio da empresa. “Se vai ter uma reuniãozinha no trabalho, em vez de bolo de chocolate, as pessoas compram um bolho de milho ou de aipim, por exemplo”, conta ela, que, além das encomendas e dos eventos, atua com delivery e pronta-entrega.
O sucesso no período junino sempre foi tamanho que, no ano passado, ela decidiu empreende em mais uma frente: ao lado da irmã e da prima como sócias, criou a Liuê Licor, focada na versão cremosa da bebida tradicional. “O negócio já é um sucesso. Muitas empresas nos pedem kits com os quitutes típicos e garrafas de licor. Vendemos versões menores para as marcas que querem incluir como brinde”, diz Quezia, que chega a lucrar entre 30% e 40% a mais nessa época.
“Nesse período, é interessante que as lojas ofereçam aos clientes uma degustação de comidas, bebidas e outros produtos típicos. Isso chama a atenção”, aconselha Rosângela Gonçalves. A especialista orienta que, pelo menos dois meses antes, os comerciantes caprichem na decoração das vitrines e invistam numa comunicação visual que reflita os elementos do São João. O mesmo vale, é claro, para quem tem negócios digitais. “Também é importante qualificar a equipe de atendimento para dar conta do aumento do fluxo de clientes. E quem tem estoque parado, pode pensar em fazer promoções temáticas”, acrescenta. O que não pode é faltar tino empreendedor para faturar em uma das datas mais quentes do ano. *A Tarde
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