Pesquisadora do sul da Bahia apresentará trabalho no Segundo Encontro Continental de Estudos Afrolatinoamericanos nos EUA . O evento que é organizado pelo Instituto de Pesquisa Afrolatinoamericana (ALARI) da Universidade de Harvard, em Cambridge (Massachusetts), acontecerá entre os dias 7 a 9 de dezembro em Boston nos Estados Unidos.
A pesquisadora Jade Lôbo, 26, natural de Ilhéus, irá apresentar sua pesquisa sobre “Relações Internacionais e Genocídio Negro: Um estudo de caso da Imigração Haitiana” que está publicada em formato de livro “Para Além da Imigração Haitiana: Racismo e Patriarcado como Sistema Internacional”.
Neta de marisqueira e ativista dos direitos humanos, Jade é coordenadora de pesquisa do Instituto de Defesa dos Direitos das Religiões Afro-Brasileiras (IDAFRO) e doutoranda em Antropologia Social na Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC).
Em contato com o Portal A TARDE, a pesquisadora explica um pouco do que será apresentado em Harvard.
“Comecei a realizar pesquisa dentro da área das relações étnico raciais em minha graduação quando entrei no grupo de pesquisa Núcleo de Estudos Afrolatino Americanos em 2016. Meus estudos são dentro da área das relações étnico-racistas trabalhando com temas como racismo, desigualdade de gênero, povos tradicionais. Buscarei aprofundar trazendo o contexto histórico das dinâmicas raciais no ocidente”.
Jade que foi bolsista na Afro-Latin American Research Institute at Harvard University, é atualmente coordenadora de pesquisa do Instituto de Defesa das Religiões de Matriz Africana que está realizando o levantamento da situação documental dos danos relativos aos aspectos sociais e culturais dos Povos e Comunidades de Tradição Religiosa Ancestral de Matriz Africana.
Com experiência na área de Antropologia das Populações Afro-Brasileiras a doutoranda Jade Lôbo falou do retrocesso das políticas de reparação social e da ascensão do racismo no Brasil.
“O governo Bolsonaro implantou uma série de retrocessos no Brasil. No que tange o racismo, para além da problemática representação da Fundação Zumbi dos Palmares, observamos uma polarização dos casos de racismos sejam diretos ou institucionais a começar pelas falas racistas do próprio presidente que rapidamente geraram um sentimento de identificação por parte de um determinado setor da população brasileira”
“O grande problema de nossa conjuntura atual é que apenas podemos evidenciar esse fenômeno secular e problematizá-lo quando conseguimos exercer o processo de educação de fato o que nestes últimos quatro anos se transformou em um grande desafio mediante as fakes news, aos retrocessos nas políticas de educação como o Novo Ensino Médio e aos expressivos cortes orçamentários a educação” disse Jade.
Na visão da pesquisadora é preciso reformular a política contra as drogas no país “uma das primeiras tarefas que precisamos realizar com urgência é fomentar políticas para a educação das Relações Étnico-Raciais. Da mesma forma que precisamos urgentemente tensionar a Lei de Drogas que tem se demonstrado como um grande gerador do encarceramento em massa e do assassinato de jovens negros”.
Autora do livro Para Além da Imigração Haitiana: Racismo e Patriarcado como Sistema Internacional, é editora e coordenadora da Revista Odù: Contracolonialidade e Oralitura e pesquisadora-escritora convidada pela Faculdade de Direito da Oxford University: Border Criminologies Faculty of Law University of Oxford. Jade fala da expectativa da sua apresentação em Harvard e conta da sua luta como mulher negra e mãe solteira.
“Estar em Harvard é um grande sonho desde quando eu estudava no ensino médio. Enquanto mulher negra já sofri racismos e ainda sofro dentro e fora das universidades por professores, colegas e secretários. Então sempre foi deixado muito claro para mim que jamais estaria ocupando um lugar como este. O fato de ser uma mulher mãe solo do interior da Bahia também se torna um desafio visto que as oportunidades tanto de trabalho quanto de incentivo a pesquisa e de divulgação no Brasil ainda estão nas grandes capitais sudestinas sendo ocupadas majoritariamente por homens brancos”
“Quando mulheres negras falam sobre racismo e de sua realidade social frequentemente são tidas como raivosas e tem seu trabalho desmerecido. Então hoje me sinto extremamente feliz em ser reconhecida por uma grande instituição de ensino e espero que cada vez mais possamos estarmos ocupando estes espaços”. Conclui a pesquisadora e doutoranda, Jade Lôbo. *A Tarde
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