A Otan (aliança militar ocidental) iniciou nesta quinta (10) um grande exercício militar, com 30 mil soldados e o envolvimento de dois grupos de porta-aviões, na Noruega, país vizinho do norte da Rússia. Ele começa sua fase mais ativa na segunda (14) e vai durar um mês.
A manobra bienal Resposta Fria, que ocorre desde 2006, já estava prevista. Mas seu tamanho, inédito, parece ter sido feito para acompanhar a escalada militar de Vladimir Putin em torno da Ucrânia, que explodiu na guerra iniciada pela Rússia no vizinho em 24 de fevereiro.
Até aqui, o maior Reposta Fria havia ocorrido em 2020, com 16 mil militares. Neste ano, chama a atenção também a presença de soldados da Finlândia e da Suécia, países nórdicos que não são membros da aliança ocidental e que, à luz da crise no Leste Europeu, estão considerando a adesão.
A concentração de tropas foi informada à Frota do Norte da Rússia, que opera na mesma região ártica da Noruega, em janeiro. Moscou decidiu não enviar uma missão de observação, como seria praxe segundo a convenção que obriga esse tipo de controle em manobras com mais de 13 mil integrantes da qual é signatária.
Isso é problemático, por toda a animosidade que existe hoje entre russos e ocidentais acerca do tema Ucrânia. A Polônia, membro da Otan, vem tentando introduzir seus caças MiG-29 no conflito, algo barrado pelos Estados Unidos porque seria lido como uma declaração de guerra a Moscou. Nuclear, diga-se.
Quando há observadores de outros países, é reduzida a margem para que movimentações sejam vistas como intimidatórias ou mesmo ofensivas. Com efeito, não havia ocidentais acompanhando as diversas manobras que ao fim ajudaram a montar a ofensiva de Putin na Ucrânia ao longo de quatro meses.
Ou seja, sempre há um risco aumentado de incidentes. Na semana passada, caças russos invadiram o espaço aéreo sueco por alguns instantes, levando a um alerta no país. Vladimir Putin, afinal, está com suas forças nucleares em alerta desde o começo da guerra, ameaçando ocidentais sobre eventual intromissão no conflito.
Chama a atenção, além do componente aéreo do exercício, a presença de dois grupos de porta-aviões. Um é americano, com o gigante de propulsão nuclear USS Harry Truman à frente.
Já os britânicos, em sua busca de renovada expressão global sob o governo atribulado do premiê Boris Johnson, mandarão o HMS Prince of Wales, belonave-irmã do HMS Queen Elizabeth, que fez sua turnê de estreia do mar do Norte ao mar do Sul da China no ano passado.
A manobra Resposta Fria é grande, mas não a maior do pós-Guerra Fria até aqui. O título fica com a Junção do Tridente de 2018, que somou 50 mil soldados em todo o continente. As grandes manobras anuais russas, com participação de aliados como China e Belarus, somaram 200 mil homens em 2021.
A presença dos nórdicos também tem um significado especial. Ao longo da Guerra Fria, Helsinque e Estocolmo praticaram uma neutralidade com alinhamento contrário aos soviéticos.
Os finlandeses lutaram a chamada Guerra de Inverno em 1940 com Moscou, um conflito muito comparado com o atual na Ucrânia. A neutralidade posterior é vista como modelo para os que defendem que Kiev se acerte com Moscou antes de uma eventual derrota militar.
Já os suecos, outro país na rota de qualquer invasão soviética da Europa, desenvolveram uma sofisticada indústria de armamentos própria em resposta à ameaça comunista. Chegaram a ter a quarta maior Força Aérea do mundo, e os resultados tecnológicos são colhidos até hoje: o Brasil comprou e vai operar caças Gripen feitos no pequeno país.
Após a Guerra Fria, os orçamentos militares minguaram, mas a renovada assertividade da Rússia de Putin mudou o jogo, com os suecos principalmente voltando a investimentos na área. Agora, pela primeira vez na história, pesquisas indicam que a maioria da população dos países é a favor da integração à Otan.
Enquanto isso, forças da aliança
têm se realocado para o Leste Europeu. Cerca de 20 mil soldados já estão
em países como a Romênia, que está fazendo exercícios conjuntos com
americanos, e a Eslováquia aprovou nesta quinta o envio de mais 2.000
militares para seu país. *Folhapress
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