Um mês após a agência regulatória europeia (EMA) ter afirmado que a vacina de Oxford/AstraZeneca é recomendada para todos os adultos, a Alemanha decidiu ampliar seu uso, algo que já havia sido feito pela Bélgica e está em estudo na França. Já o Reino Unido anunciou uma restrição nesta sexta (7).
O imunizante –assim como o produzido pela Janssen, com a mesma tecnologia– entrou em reavaliação pela EMA após relatos de coágulos raros, mas graves, em pessoas vacinadas. A agência viu relação entre as vacinas e os efeitos colaterais, mas reafirmou que eles acontecem em números ínfimos, muito inferiores aos das mortes que a vacinação previne.
A recomendação, emitida no mês passado, foi a de que a AstraZeneca continuasse sendo aplicada em todos os adultos, porque os benefícios compensam os riscos. Apesar disso, 12 de 30 países europeus decidiram então restringir o uso da vacina aos mais velhos, a Noruega suspendeu temporariamente sua aplicação e a Dinamarca a interrompeu definitivamente.
A vacina da AstraZeneca é usada também no Brasil, recomendada para todos os adultos. Foram relatados até agora 14 casos graves de acidente vascular, em investigação sobre relação de causa e efeito com o imunizante. O número é bem menor que o de casos de trombose em quem teve Covid (165 mil casos a cada 1 milhão de pessoas).
Na Alemanha, o governo alemão decidiu reabrir a opção de que adultos de qualquer idade recebam a AstraZeneca, para acelerar a imunização. Até esta sexta, o país havia aplicado pouco mais de 40 doses para cada 100 habitantes, cerca do dobro da marca brasileira, mas pouco mais da metade da taxa de vacinação do Reino Unido.
Segundo o ministro da Saúde, Jens Spahn, caberá aos médicos decidirem que produto aplicar - o país implantou no mês passado um esquema de vacinação em clínicas gerais, para ampliar seu alcance. Ele afirmou também que os pacientes devem ser avisados sobre os riscos.
Para reverter o impacto que a discussão sobre os coágulos teve na confiança dos alemães, a própria primeira-ministra da Alemanha, Angela Merkel, divulgou que havia tomado uma primeira dose de AstraZeneca.
A medida de liberar o uso da vacina também leva em conta os planos alemães de liberarem vida normal para quem já foi imunizado, o que gerou críticas dos mais jovens, que ainda estão na fila. Além de ampliar a oferta de marcas, Spahn disse que os médicos poderão decidir o intervalo entre doses (que pode variar de 4 a 12 semanas).
Na Bélgica, onde em abril só maiores de 55 podiam receber doses de AstraZeneca, o limite foi baixado para 40 há duas semanas. Já na França, que só a aplica a partir dos 55 anos, o ministro da Saúde, Olivier Véran, consultou a autoridade de saúde sobre a possibilidade de "dar aos franceses liberdade de escolha, fornecendo-lhes informações claras, leais e adequadas".
Em direção contrária, o Reino Unido, que havia decidido oferecer alternativas de imunizante para menores de 30 anos, elevou essa barreira para 40 anos. Isso acontece porque a decisão sobre administrar ou não a AstraZeneca é baseada na comparação entre as mortes e casos graves evitados pela vacina e os possíveis acidentes vasculares causados por ela.
De acordo com cientistas, os efeitos colaterais se mostraram mais frequentes em pessoas mais jovens (1 em cada 60 mil vacinados até 30 anos, contra 1 em cada 100 mil no geral). Por outro lado, os mais jovens são também menos propensos a morrer ou desenvolver casos graves de Covid-19. Por isso, quando mais controlada fica a pandemia no país, mais peso passa a ter o risco de coágulo para essas faixas etárias.
O governo britânico afirmou que o novo limite não vai afetar a velocidade da campanha de vacinação no Reino Unido; a expectativa é que todos os adultos tenham tomado ao menos uma dose até o final de julho. A disponibilidade de vacinas alternativas é outro dos critérios recomendados na decisão sobre quando restringir um ou outro produto.
Apesar da mudança, a agência
britânica manteve a recomendação de que uma segunda dose de AstraZeneca
seja dada para quem recebeu a primeira desse imunizante. *Folhapress
0 Comentários