O grupo Hermes Pardini desenvolveu um novo exame para diagnóstico de Covid-19 capaz de detectar, por meio do RT-PCR, qual é a variante do coronavírus presente no organismo.
A técnica, conhecida de genotipagem, consegue identificar a partir do material genético do Sars-CoV-2 presente na amostra de swab (espécie de cotonete usado para a coleta no nariz e garganta) uma das três variantes de preocupação do vírus: a B.1.1.7 (britânica), a P.1 (ou de Manaus) e a P.2 (encontrada primeiro no Rio de Janeiro).
Diferentemente da metodologia de sequenciamento genético, cujo custo é elevado e demora mais tempo para a análise, o teste de genotipagem consegue identificar com a mesma precisão as variantes e pode ser feito em larga escala e oferece uma resposta mais rápida para pacientes internados em estado grave.
A partir da sequência genética de cada uma das variantes, o grupo de pesquisadores do Grupo Pardini em parceria com a Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) desenvolveu um primer (ou literalmente "iniciador", em inglês) que vai grudar naquela sequência exata do vírus na hora da leitura do material genético via método PCR. Assim, tanto a sensibilidade do exame quanto sua especificidade ficam acima de 98% de eficácia.
"O que o Grupo Pardini fez foi, a partir de dados gerados por pesquisas colaborativas de sequenciamento genômico do Sars-CoV-2, criar um teste acessível e rápido que será de muita utilidade do ponto de vista coletivo. É levar tecnologia em saúde, para quem precisa, onde estiver", explicou o vice-presidente do Grupo Pardini, Alessandro Ferreira.
O teste só pode ser feito pós-diagnóstico de Covid-19, ou seja, somente pacientes com RT-PCR positivo podem solicitar o exame em um prazo de até 48 horas após a confirmação da infecção.
A indicação é que no momento de coleta do RT-PCR já seja feita também a coleta no mesmo tubo do material para genotipagem. Assim, se o resultado positivo for confirmado, o exame de genotipagem pode ser feito em seguida.
O exame estará disponível na rede de laboratórios do grupo a partir da próxima segunda-feira (19).
É importante saber se o paciente está infectado com uma das três variantes hoje predominantes no país e de maior preocupação -já foi comprovado que as variantes britânica e de Manaus são mais transmissíveis– para poder orientar os cuidados médicos e gerar dados para as autoridades de saúde na vigilância epidemiológica das variantes.
"Alguns estudos já apontam para maior gravidade da infecção causada pela variante P.1, de Manaus. Por isso, a indicação é que o exame seja feito com acompanhamento médico para que o atendimento hospitalar seja feito seguindo essa orientação", diz.
Uma quarta variante de preocupação já identificada é a da África do Sul (B.1.351), mas a sua presença só foi reportada até agora para o município de Sorocaba, em São Paulo, e sua frequência ainda não é expressiva no restante do país.
O Brasil é hoje um dos países com o maior descontrole da pandemia e, consequentemente, com o melhor cenário para o surgimento de novas variantes, uma vez que, quanto maior a circulação do vírus, mais mutações aleatórias podem acontecer a cada vez que ele invade e replica seu material genético nas células.
Quando essas mutações aleatórias surgem, algumas delas podem desaparecer naturalmente, mas aquelas que trazem algum benefício, como serem mais transmissíveis, podem prevalecer.
No início do ano, a cidade de Manaus vivenciou um aumento de casos exponencial que levou ao colapso do sistema de saúde. Poucas semanas depois, foi a vez de cidades do interior de São Paulo, como Araraquara e Ribeirão Preto, passarem por situação semelhante. Em todas essas cidades, a variante predominante em circulação era a P.1.
Araraquara e Ribeirão Preto só conseguiram diminuir o número de casos e óbitos por Covid após a adoção de um lockdown rigoroso, com o fechamento total dos serviços para restringir a circulação das pessoas.
A OMS (Organização Mundial da Saúde) fez um alerta na última segunda-feira (12) para o quadro crescente da pandemia em todo o mundo e disse que é preciso combinar medidas sanitárias, como distanciamento social e uso de máscaras para conter a circulação do vírus, e não somente focar a vacinação.
A entidade afirmou, em fevereiro, que a situação do Brasil "é uma
tragédia" e que a presença de variantes de preocupação em circulação não
é desculpa. "A contribuição dos novos mutantes ainda não é totalmente
conhecida, mas vários países já mostraram que, com as medidas corretas, é
possível contê-las", disse Mike Ryan, diretor-executivo da OMS. *Folhapress
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