Para além das dores no corpo, garganta inflamada, febre alta e prostração, o surto de gripe H1N1 -que atinge principalmente São Paulo, dois meses antes do esperado- causa também outros efeitos colaterais. Para pais, mães e quem tem familiares idosos, o medo é o primeiro.
Máscaras, álcool em gel, prontos-socorros lotados, filas para se vacinar e grupos de WhatsApp fervendo são alguns dos outros sintomas.
Em São Paulo, de acordo com a Secretaria da Saúde, são 465 casos de síndrome respiratória aguda no Estado, 372 ligados ao H1N1 -as mortes por essa causa são 55.
A psicóloga Tatiana Amendola, 44, até tentou se defender da contaminação limpando a mão constantemente com álcool em gel durante o dia. Não foi suficiente.
Na madrugada de domingo (27), ela começou a passar mal. Febre alta, dor no corpo e indisposição. Não demorou muito, foi parar no pronto-socorro do hospital Samaritano, em Higienópolis.
Segundo ela, pagou R$ 319 para fazer o teste de secreção nasal para confirmar a presença do vírus influenza H1N1 e já saiu de lá com a prescrição para tomar oseltamivir (Tamiflu) -em falta em boa parte das farmácias da cidade.
Medicada, a psicóloga passou a semana em casa, no quarto, de cama e de máscara quando precisou botar o pé para fora do cômodo. Medo de contaminar algum familiar.
Com ela, em Pinheiros, moram seu filho, de nove anos, seu irmão, de 40, e seu avô, de 98. "Se eu saio do quarto, ele entra no dele", diz Tatiana.
Na casa de Ronaldo Schildberg, 34, a família também usou máscaras por quase uma semana. Antes mesmo do exame de sua filha Klara, 2, ficar pronto, ela já estava medicada e a precaução adotada. "É uma preocupação válida", afirma o infectologista Carlos Spinelli. Os pais da menina não se contaminaram.
O medo também fez "ferver" o celular de Carolina Baena, 38, enfermeira e dona de uma agência de babás. Em seu grupo de mães no WhatsApp, as sugestões para a professora de seus filhos foram da instalação de um dispensador de álcool em gel na classe à fiscalização das crianças lavando as mãos antes de escovar os dentes.
Casada com um médico, que trabalha em pronto-socorro, ela diz que teve que aprender a dosar a preocupação. "Chegamos a conversar sobre o que fazer com a roupa que ele chega do trabalho."
Nos hospitais privados da cidade não foi diferente nesta semana. Em alguns deles, como na unidade do Albert Einstein no Ibirapuera, a corrida para se vacinar gerou uma procura fora do normal. A espera superava duas horas e meia e o preço para ser imunizado, cerca de R$ 200.
O telefone do infectologista Artur Timerman, do Hospital Edmundo Vasconcellos, não parou. "Já recebi uns dez telefonemas de pessoas pedindo para que eu arrume vacinas para elas, como se eu estivesse escondendo vacina. Dizem que pagam quanto for. Uma loucura, deve ser coisa de Facebook", afirma.
Segundo ele, as pessoas fazem o que não deveriam: se aglomeram nos prontos-socorros. "Nessas situações há mais chances de circulação e transmissão do H1N1."
NEM SEMPRE É PRECISO IR A EMERGÊNCIA
Na frente de um pronto-socorro privado paulistano, uma enfermeira sai apressada falando ao celular. "Não, é melhor só acompanhar. O que ele vai fazer aqui? Só se for para pegar gripe", dizia.
"Algumas pessoas procuram a emergência sem necessidade, o que é ruim, pois vão ficar expostas a um ambiente contaminado", afirma o infectologista Carlos Spinelli.
Se era esse o caso do suposto paciente da conversa da enfermeira, ela estava correta. Caso contrário, a precocidade do tratamento é fundamental, diz o coordenador de controle de doenças da Secretaria de Estado da Saúde de São Paulo, Marcos Boulos.
No mesmo hospital, pacientes -muitos de máscara- esperavam cerca de quatro horas para serem atendidos no pronto-socorro. Na quarta-feira (30), às 19h, dois deles eram os filhos de Leonardo Correa, 25, supervisor de outro hospital, em Barueri, na Grande São Paulo.
A espera durou cerca de quatro horas, até o meio da noite. A família saiu de lá em busca do antiviral Tamiflu. "Se até amanhã eles não melhorarem, a gente volta", disse o pai.
RECOMENDAÇÕES
Em meio ao surto, valem recomendações de higiene para evitar o contágio, como cobrir a boca e o nariz ao espirrar ou tossir, e lavar as mãos com frequência.
Todas são medidas válidas, afirma Boulos. O coordenador de Controle de Doenças do Estado reforça, porém, que a única proteção realmente efetiva é a vacinação.
Nesta semana, profissionais de saúde serão imunizados no SUS e, na outra segunda (11), a vacina começará a ser dada gratuitamente a gestantes, crianças de seis meses a cinco anos e idosos. (eS)
Por Redação GN | Fonte: Folha De S.Paulo
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