Depois da repercussão das denúncias de abuso sexual contra o ex-padre João Marcos Porto Maciel, que resultaram em sua prisão no dia 9 de dezembro, em Caçapava do Sul, na Região Central do Rio Grande do Sul, outros relatos de supostas vítimas chegaram até a polícia. O caso mais recente é do produtor rural Leoni Dornelles da Silva, que decidiu quebrar o silêncio 50 anos após ser abusado, como mostra a reportagem do Teledomingo, da RBS TV/Globo (veja o vídeo abaixo).
Leoni tinha sete anos quando passou a conviver com o ex-padre conhecido como Dom Marcos de Santa Helena. O menino entrou para o coral da Igreja Santana da Boa Vista para aprender música e acabou se tornando alvo de Dom Marcos. Quando soube dos relatos das outras vítimas, Leoni resolveu escrever uma carta para a polícia e contou os segredos de sua infância.
"Ele montava as camas na sacristia e ia pedir para as mães, convidar a gente para posar na casa dele, e as mães liberavam. A gente deitava para dormir e quando via ele estava em cima. O que eu mais buscava nesse momento era socorro, mas eu não tinha a quem pedir socorro", lembra o produtor rural.
No texto, ele revela também que, após uma viagem para apresentação do coral, o religioso obrigou os meninos a andarem de joelhos até se machucarem. "Ele mandou que tirássemos as calças. Ficamos só de cueca e ele mandou que a gente fizesse voltas ao redor de um pedregulho, de joelhos. Saía sangue, a gente chorava".
Além do produtor rural, mais três adultos contaram à polícia que foram abusados. Em julho, Marcelo Ribeiro e Alexandre Diehl revelaram a violência sexual sofrida na infância. Na época, Dom Marcos continuava com as aulas de música para adolescentes sem o conhecimento das autoridades. Logo depois das denúncias, foi iniciada a investigação policial. Outros dois adolescentes de Caçapava do Sul também afirmaram terem sido vítimas entre 2007 e 2010.
Após ser capturado no templo que administrava, Dom Marcos está preso em Caçapava do Sul em uma cadeia com outros 48 detentos. O religioso foi colocado em cela separada e sai para o pátio em horários diferenciados. A prisão temporária vale por um mês, e o advogado do ex-padre pedirá que ele cumpra a prisão em casa, já que tem diabetes e precisa de alimentação especial. A polícia acredita que existam outras vítimas do ex-padre em mais quatro estados, e pede que elas denunciem o caso. Para Leoni, isso servirá para que ninguém mais passe pelo que ele passou.
"Eu não tenho isso como revanchismo, é uma forma de fazer com que outras criaças parem de sofrer isso aí. A sociedade esconde, tapa isso porque acha feio, e aí a pessoa continua fazendo isso por 53 anos", afirma.
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Fonte: G1