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Musa da arbitragem brasileira pode retornar à Série A em breve


A auxiliar de arbitragem Fernanda Colombo Uliana pode voltar a trabalhar na Série A do Campeonato Brasileiro depois de ter sido afastada para um período de reciclagem no mês de maio. A afirmação foi feita por Sérgio Corrêa, presidente da Comissão Nacional de Arbitragem da CBF.

“Ela está em processo de amadurecimento nas Séries B e C, mas não há nada que a impeça de voltar à Série A”. Embora tudo pareça resolvido com a palavra do chefão dos árbitros, a trajetória de Fernanda não é uma situação assim, preto no branco.

Existem vários tons de cinza na carreira da catarinense de 23 anos. No dia 7 de maio, ela trabalhou na partida entre São Paulo e CRB, pela Copa do Brasil, e recebeu críticas e elogios do técnico Muricy Ramalho. “É muito bonita, aquelas coisas todas, mas tem que bandeirar melhor”.

Uma semana depois, a assistente assinalou um impedimento inexistente do cruzeirense Alisson, aos 41 minutos do segundo tempo, durante a derrota da equipe celeste para o Atlético Mineiro por 2 a 1. O erro revoltou o diretor de futebol do Cruzeiro, Alexandre Mattos. “Se ela é bonitinha, que vá posar na Playboy, no futebol tem que ser boa de serviço”.

Depois da enorme repercussão negativa, o diretor recuou. “Ele me ligou para pedir perdão”, disse Antonio Carlos Uliana, pai da auxiliar. Após os erros, ela foi afastada para se reciclar. Seu colega no clássico, o árbitro catarinense Héber Roberto Lopes, foi poupado, embora o Cruzeiro tenha reclamado de um pênalti não marcado (mão do zagueiro Otamendi) e da penalidade a favor do Atlético.

O período de reciclagem incluiu sessões com a psicóloga Marta Magalhães Souza, da CBF, e treinamentos específicos na Escola Nacional de Arbitragem. Fernanda reconhece que errou, o problema não é esse. Seu afastamento, no entanto, tem como pano de fundo a presença da mulher no futebol.

“Se um homem bonito tivesse cometido o mesmo erro, dificilmente o diretor do clube prejudicado diria para ele posar para a revista G Magazine”, comparou a socióloga Carla Cristina Garcia, professora da PUC-SP. “Em parte, os erros que cometi foram supervalorizados pelo fato de eu ser mulher. Em outra parte, por ser muito nova. Todos nós cometemos erros, mas ainda vemos muitos comentários machistas no futebol”, disse Fernanda Colombo.

A reportagem ouviu alguns desses comentários na partida entre Juventude e Guaratinguetá, pela Série C, do Campeonato Brasileiro, em setembro, a nova realidade da auxiliar. “Vai lavar louça”, gritou um torcedor gaúcho após um impedimento que Fernanda assinalou corretamente. A auxiliar foi preservada de outros xingamentos - isso também faz parte da reciclagem - ao ser posicionada onde não havia torcida.

Não mesmo: o borderô aponta 64 torcedores nas arquibancadas. Somando os outros 67 da tribuna, que pagaram meia, a renda deu R$$ 685. O ex-árbitro Leonardo Gaciba afirma que Fernanda foi lançada na Série A de maneira precoce.

“Normalmente, os árbitros começam pela C, B e depois vão para a Série A. Ela começou no alto, cometeu erros e está recomeçando a caminhada, o que é natural e justo”. Fernanda teve uma carreira realmente meteórica. Aos 18 anos, trabalhava em jogos amadores de Santa Catarina. Aos 23, já havia sido promovida a aspirante Fifa - seu primeiro jogo nessa condição foi aquele São Paulo x CRB.

“Tenho paixão pelo que eu faço”, disse a catarinense que deixou de lado os trabalhos de modelo para se dedicar à arbitragem, seja na A, B ou C.

QUESTÃO FÍSICA
Gaciba insere o aspecto físico na discussão. Segundo ele, existem poucas profissionais na arbitragem porque é difícil alcançar os índices físicos. Em uma partida, uma juíza corre entre 8 a 15 km. “Aquelas que conseguem o índice, como Fernanda conquistou, são ainda mais respeitadas”.

Independentemente da razão, o futebol ainda é um terreno árido para as mulheres. Números da Associação Nacional de Árbitros de Futebol apontam que dos 613 profissionais a ela filiados, entre árbitros, assistentes, assessores e delegados, apenas 89 são mulheres, o que representa pouco mais de 10%. Fonte: Estadão conteúdo