Nova série traz Edson Celulari no papel de um homem que age como um animal

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Nova série traz Edson Celulari no papel de um homem que age como um animal

Edson Celulari surge elegante, num terno cinza de corte reto e camisa branca, para a sessão de fotos desta reportagem, segunda-feira passada, num shopping na Barra da Tijuca, no Rio. Em pouco lembra o ator que, no final de abril, gravava a série Animal, no interior do Rio Grande do Sul, com os cabelos grisalhos desalinhados, a barba malfeita e roupas simples. Quase desleixado.

Galã de novelas da Globo, Celulari se transformou para contar a história do atormentado doutor Gil, um biólogo vítima de uma doença raríssima que volta à sua cidade natal, após 50 anos, em busca de cura. Com 13 episódios, a primeira temporada da série estreia em 6 de agosto, uma quarta-feira, às 23h, no GNT, resultado de uma parceria inédita entre a TV Globo e a Globosat.

“Esse personagem tem olheiras, tem esse quase desleixo. Ele jamais viria de terno e gravata, pisando em saltos. Ele está em busca da cura para uma doença terminal e progressiva. Tem surtos, medo de perder a memória, vive sob essa pressão. Para mim, foi natural me expor, com barba e cabelos brancos, mostrando descuido. Ele vive nessa poeira, com sapatos sujos e roupas amassadas”, descreve Celulari, de 55 anos, que deixou os cabelos crescerem, como poucas vezes usou na vida: “Estou um velho Jean Pierre”, brinca, referindo-se à cabeleira de seu personagem na clássica Que Rei Sou Eu? (1989).

Pura piada do Seu Edson, como o ator era chamado pela equipe no ambiente descontraído das gravações, quase todas externas, em Minas do Camaquã, distrito de Caçapava do Sul, a 300 quilômetros de Porto Alegre. O doutor Gil não poderia ser mais diferente do herói de capa e espada da novela. Criado pelo gaúcho Paulo Nascimento, autor e também diretor de Animal, o protagonista sofre de teriantropia, um distúrbio que faz humanos agirem como animais. No caso de Gil, durante suas crises, ele se comporta como um puma.

Violento 

“Mas ele não vira bicho. não é lobisomem, não é Drácula. Quando tem um surto, há um desequilíbrio de respiração, de pulsação. Ele pode ficar violento, por isso se amarra. E ele é muito inteligente, algumas coisas vêm dessa doença, como o olfato e a visão superdesenvolvidos”, detalha Celulari.

Fã de séries antes mesmo de o formato ser cultuado no Brasil (“Desde criança, gostava de Kung Fu, Kojak e Twin Peaks”, diz), Nascimento criou uma atração no modelo americano de seriado. O arco principal, que perpassa os 13 episódios, mostra a busca do biólogo por sua cura e sua tentativa de descobrir quem matou seu pai, numa caçada, décadas antes em Monte Alegre. Mas não é só isso. Cada episódio conta uma história com começo, meio e fim. Gil, por ser muito inteligente, é constantemente requisitado na cidade para desvendar mistérios ou solucionar problemas.

“São situações inusitadas, mas com embasamento científico. Não é realismo fantástico. É uma série de ação e suspense, mas não é policial”, explica o diretor, destacando que teve liberdade para transgredir. “Há personagens muito loucos, como um médico alemão que trabalha com doentes mentais numa clínica, mas não é bem isso. Um fazendeiro que pensa que é (o escultor) Rodin, mas tem um grande segredo”.

Tantas histórias ganharam vida numa grande produção que reuniu 100 atores e 150 figurantes, incluindo até moradores da região, nos três meses de gravações. “Eu desenvolvi a série dentro da TV Globo há dois anos. Era para a TV aberta, foge do padrão do cabo brasileiro, que tem mais cenas de estúdio. Aqui uma cena pode ter cem atores, com muitas externas”, dimensiona Nascimento.

As locações foram, inclusive, ponto de partida para o roteiro. Em 2007, o diretor filmou na região Valsa para Bruno Stein, com Walmor Chagas e Leonardo Machado, que interpreta o Felipe de Animal, e ficou impressionado com o lugar.

“Agora já tem uma tirolesa, turismo de aventura, na época não era assim. Escrevi a história em cima dos cenários que existiam. Quando as pessoas liam o roteiro, diziam onde vamos achar um cinema country, uma mina abandonada de cobre? Mas está tudo aqui... O cemitério no alto, a cidadezinha, a casa de onde se vê a montanha”, enumera Nascimento, referindo-se a pontos de Minas do Camaquã.

A pequena cidade, com cerca de 300 habitantes, fundada pelo playboy e empresário Baby Pignatari (1917-1977) para abrigar os funcionários de sua mineradora, se transformou em Monte Alegre para a série. E, além de servir de cenário, hospedou toda a equipe e o elenco entre março e junho, período de gravações.

O isolamento na região, onde é difícil ficar conectado à internet todo o tempo, o celular chega a não pegar em alguns pontos, quase não há tráfego de carros e as paisagens impressionam, foi positiva para o projeto.

Nascimento conta que todos ficavam focados no trabalho. “Os atores usavam até o figurino dos personagens o dia todo”, destaca.
Cristiana Oliveira  

Cristiana Oliveira, que vive Mariana, a prefeita de Monte Alegre que se envolve com o doutor Gil, concorda: “Foi um dos momentos mais lindos da minha vida. A convivência foi ótima. O lugar tem uma energia como nunca vi igual. E as pessoas da cidade viraram nossa família”.

Celulari conta que chegou até a fazer uma pequena obra a fim de ganhar mais espaço em seu quarto na pousada para receber a visita dos filhos Enzo, de 17 anos, e Sophia, de 11. “Eles acompanhavam as gravações, mas gostaram mesmo foi de fazer escalada, arvorismo... Acabei praticando tirolesa com eles também. Foram seis vezes, numa altura de 140 metros e 1.400 metros de extensão”, relembra o ator, fazendo cara de que não é tão chegado a aventuras, mas já pronto para gravar uma segunda temporada da série, a partir de maio.

Antes, porém, Edson Celulari fará a próxima novela das 19h da Globo, Alto Astral, de Daniel Ortiz, com supervisão de texto de Silvio de Abreu e direção de Jorge Fernando. Seu personagem, Marcelo, é o dono de uma editora com um passado de aventureiro e que hoje vive acomodado no casamento e na carreira.

Ele busca resgatar o espírito da juventude - descreve o ator, ainda com a cabeleira do doutor Gil, só que mais bem penteada: “Em maio, logo depois da novela, voltamos a gravar Animal em Minas do Camaquã, mas o personagem também deve ir a outros lugares, como a Patagônia”, adianta.

Mesmo antes da estreia, uma terceira temporada da série já é cogitada, revela Guilherme Bokel, diretor-executivo de Entretenimento da TV Globo, que divide o projeto com a Globosat. Ele explica como funciona essa primeira parceria.

“São projetos que temos dentro da TV Globo, fruto de uma ideia original para o cabo ou algo pensado para a TV aberta. Este último foi o caso de Animal, todos gostavam, mas como a gente tinha umas três ou quatro séries para o mesmo horário, vimos que poderia ser uma boa oportunidade para o GNT. Levei o projeto para a Daniela Mignani (diretora-geral do canal) e ela gostou”, explica Bokel, acrescentando que a partir desse passo, a Globo licencia o projeto para a Globosat, que contrata uma produtora para executá-lo. “Mas nós acompanhamos todas as etapas do projeto para que ele possa ter o selo de qualidade da Globo”.
Talentos locais

No caso de Animal, foi a produtora do próprio diretor Paulo Nascimento, a Acorde Filmes, a selecionada. “A gente tem experiência de filmar em lugares difíceis. Fizemos o longa A Oeste do Fim do Mundo na Cordilheira dos Andes”, conta o gaúcho, que convocou talentos locais para Animal.

Leonardo Machado, o Felipe, é um deles. Parceiro do diretor em vários projetos, ele interpreta o melhor amigo do doutor Gil. “Ele é um tipo de Watson, do Sherlock, tem esse arquétipo”, diz o ator, que fez novelas como Malhação (2006) e Viver a Vida (2009) e a série Na Forma da Lei (2010), mas hoje tem seu foco em cinema e teatro.

Rafael Cardoso, o Vicente da novela Império, é outro gaúcho no grupo. Ele será o bandido Naldinho, obcecado por Lia, dona do bar de Monte Alegre e que pratica esportes radicais. Com um chimarrão nas mãos, a atriz Fernanda Moro conta já dominar a parede de escalada: “Agora quero me arriscar nas pedras”.

Outro que trabalhou com Nascimento na região em Valsa para Bruno Stein é Clemente Viscaíno, o dr. Estácio na trama. “O Paulo Nascimento também escreve a série, o que é ótimo. Se ele decide mudar uma frase, brinca: ‘Vou consultar o autor...’ É uma relação de amigo, ele não se impõe como diretorzão”.
Veja a teaser da nova série da GNT
                

Fonte: Valquíria Daher | Agência O Globo